MARIDO ARRANCA OLHO DA ESPOSA POR ESTA DAR À LUZ APENAS MENINAS EM QUELIMANE
Lúcia tem 32 anos e um silêncio que pesa mais do que a própria dor. Durante anos acreditou ter encontrado um porto seguro no homem com quem partilhava o teto, um fiscal das áreas de conservação que jurara proteger a fauna bravia — mas que nunca soube proteger a própria família.
A relação era um rio calmo até ao dia em que o emprego novo lhe subiu à cabeça como um vento mau. Vieram as agressões, primeiro leves como sombra, depois duras como pedra. A culpa? O facto de Lúcia não lhe ter dado um filho rapaz, como se o destino do ventre fosse delito.
No dia 2, o homem voltou a casa embriagado. O jantar fumegava na mesa, mas ele recusou tudo, inclusive a paz. Caminhou até ao quarto, onde as filhas dormiam, e começou a agredi-las, cuspindo a frustração de que os amigos zombavam dele por “não ter filhos, apenas filhas”.
Lúcia correu para defendê-las como tantas vezes já tinha feito e ali começou o horror que a cidade ainda tenta nomear. Entre empurrões, murros e insultos, o marido cravou os dentes no rosto da mulher, arrancando-lhe o olho direito, como se quisesse apagar para sempre a luz que ela ainda insistia em carregar.
Hoje, sentada no quintal de chão batido, Lúcia chora. A pequena filha, sem entender o mundo dos adultos, passa a mão no rosto da mãe numa tentativa infantil de consolo. É um gesto pequeno, mas é tudo o que elas têm.
Entre soluços, Lúcia recorda as noites intermináveis de violência, o filho rapaz que chegou a gerar mas perdeu antes do primeiro choro, e a peregrinação inútil à polícia, onde nunca encontrou amparo talvez porque o agressor veste farda e ostenta poder.
As vizinhas e amigas, que há muito testemunham a degradação desta casa, erguem agora a voz que Lúcia já não consegue sustentar. Repudiam o comportamento do agente, exigem justiça, perguntam quantas mulheres ainda precisam perder olhos, dentes, sonhos para que o país finalmente enxergue.
E enquanto o sol se põe atrás das casas, Lúcia permanece ali, com um só olho, mas com a força de quem ainda resiste. Porque a violência tentou apagá-la, mas não conseguiu silenciar a história que agora ganha a rua.
Reportagem: Virgílio Ounhu
Imagem: Elias Levene
Narração e texto: Leonardo Duarte
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